sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Lembranças de bancos de concreto
Pílula da manhã, pílulas da tarde, calor da noite e sede da madrugada. Essa tem sido a minha realidade nos últimos seis meses. Os remédios deveriam fazer com que eu me sentisse melhor, sem ressentimentos ou medos, mas eles acabaram me deixando insensível. Não tenho mais vontade, não gosto mais das coisas, a vida se tornou uma eterna espera. Só uma coisa eu não deixei de sentir: sede. Sede o tempo todo, toda hora. Quanto mais água eu bebo mais sede eu tenho. A garganta arde, grita por hidratação. Não sei mais o que fazer. Só me resta, mais uma vez, esperar mais dois meses para ter minha saúde de volta. Saúde física e mental. Palavras não mais sensibilizam, toques não me fazem sentir nada, até o telefone que toca é insignificante. Onde foi parar a emoção? Onde está a vontade de sair correndo e gritar, cadê aquela paixão que me deixava sem ar, aquele frio na barriga quando um lembrança passava pela cabeça, aquela vontade de não comer mais nada e se alimentar só de pensamentos? Hoje eu não tenho nem pensamentos. Nem bons, nem ruins. Simplesmente não penso em mais nada, não planejo mais nada, não vivo mais nada. Nem mesmo a espera, que deveria estar me corroendo por dentro, me faz sentir alguma coisa. Não faço nada e o dia passa voando. A semana passa num piscar de olhos. Quando me der conta, já estou velha, enrugada e sem nenhuma lembrança pra compartilhar. Todas as lembranças que eu tenho são de semanas, meses, anos atrás. E a vida passa voando. Essa não é a vida que eu havia planejado sentada no banco de concreto com minhas amigas de escola. Está muito longe de ser. E hoje eu nem sei onde foram parar as minhas amigas do banco de concreto. Eram tantos planos, tantos projetos perfeitos, tantas emoções para compartilhar... Onde será que elas foram parar? Assim como elas, eu me perdi no mundo das lembranças. Sou uma lembrança vaga de um momento avulso no passado de alguém. Devo ser uma daquelas pessoas que são citadas em conversas de intervalos, de almoço, de paradas de ônibus, de filas para pagar contas. Quem sabe depois desses dois meses... Tempo... sempre ele... As vezes tenho medo de estar sempre depositando minhas alegrias para o futuro. Mas quem disse que o futuro não vai chegar?
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Um comentário:
amiga, pois somos duas. precisamos de uma terapia nesses bancos de concreto.
;)
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