quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Cartas para o John

Boa noite,

Mais uma vez cá estou, segurando minha vontade de entrar em contato com você através destas cartas que provavelmente você nunca lerá. A saudade está grande. Agora nem é mais tanto pra gente voltar, talvez só pra tomar uma cerveja contigo, bater um papo, ouvir uma música, já que nossos gostos musicais são tão parecidos. Sinto falta da sua companhia, muita falta. Mas isso é porque estou desempregada, pensando em você o tempo todo. Me tornei o que eu mais desprezei: ociosa que fica cheia de abobrinhas na cabeça, que não aguenta esperar o tempo passar para tomar uma atitude impulsiva. Que droga!
Mas voltando ao estado de serenidade: fingindo que estou de fato falando com você. Vamos dar uma volta, tomar uma cerveja, fumar um, rir da cara um do outro e nos abraçar um pouco. Apesar do calor, essa noite está tão fria... Queria seu corpo sempre quente só pra abraçar um pouco.
Certa vez ouvi um "tenho pena de você" de um ex namorado. Havia convidado ele para um bar, duas semanas depois de termos terminado porque não aguentava mais seus ciúmes e grudes. Mas não resisti em chamá-lo para tomar uma cerveja e conversar. Ele falou que tinha pena de mim. Pena. Que sentimento desprezível. Fiquei com o orgulho ferido. Chorei. E prometi pra mim mesma que nunca mais chamaria alguém pra tomar uma cerveja quando estivesse me sentindo sozinha dessa forma. Já quebrei essa promessa umas três vezes depois disso. E é horrível quando você quebra suas próprias promessas. Você passa a não confiar mais na sua própria palavra, no seu próprio autocontrole.
Desta vez vai ser diferente. Vamos lá, fazer mais uma promessa pra mim mesma. Não vou ficar no seu pé, insistindo pra ter sua companhia. Afinal de contas, você me respeitou muito depois que terminamos. Tanto que você, que é uma das pessoas mais pacientes e orgulhosas que conheço, demorou dois meses para me chamar pra tomar uma cerveja. Eu recusei na primeira mas você chamou uma segunda vez uma semana depois. Quero uma dose desse autocontrole. É disso que eu tô precisando. E de um emprego. Preciso de um emprego pra ocupar minha mente e parar de pensar em tanta bobagem, parar de passar o dia no celular mendigando por algum resquício de atenção sua. Torcendo para você não estar se envolvendo tanto com outra pessoa e esquecendo de mim, torcendo pra você se lembrar de mim quando escutar as músicas que te apresentei.
Chega de ser tão patética! Estou virando uma pessoa patética, é isso. Daquelas que ficam em casa resmungando e chorando por um amor antigo, que nem lembra que eu existo. Você está em êxtase com o novo relacionamento e eu tenho mais é que ocupar minha cabeça e deixar o tempo passar.
Quem me dera o tempo fosse um mertiolate, dos antigos, que a gente passa, ele arde, mas cura tudo rapidinho. Mas o tempo é como uma medicina alternativa. Ele está na fruta que você come todo dia pra adquirir aquela vitamina e não ficar gripado com a chuva.
Tempo, meu bem, seja generoso comigo, me faça esse favor. Passe depressa e me traga meu amor de volta, porque não aguento mais esperar!
Vou acender uma vela e rezar pra que você se lembre de mim e de todo o amor que eu tenho por você.

Fica bem.

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