domingo, 18 de novembro de 2018

Fogo e faísca

Chega uma hora que as coisas ficam claras mas a gente tem um pouco de dificuldade pra aceitar. Precisei me separar de você, viver um romance intenso com outra pessoa, pensar em casar com essa pessoa, descobrir que não era o que eu queria e que na verdade eu não consigo te tirar da cabeça e do coração. Mas isso não foi o suficiente pra eu entender que você é a pessoa que eu quero pra sempre na minha vida. A gente ficou amigo de novo, de se ver todo dia, e cada dia que eu passava contigo vinha com um turbilhão de sentimentos do passado, misturados com os novos, já que somos novas pessoas agora. Fiquei muito grata por você ter me levado até Cabeçudas, por me ensinar a mudar a marcha da bike, por me mostrar que sou capaz. Fiquei bem feliz em te ver bem no seu novo apartamento, com amigos, com a vida leve e o sorriso no rosto. Em ver que você está se resolvendo sozinho, está confiante, com um brilho no olhar. Era tudo o que eu queria ver. Fiquei bem feliz também quando você me levou no Beco. Realmente, um lugar que é a minha cara. Queria ter ido com você pular da pedra e cair no mar. Mexeu muito comigo quando você disse que pensou em mim o tempo todo enquanto estava lá.
Agora você deve estar se perguntando: por que ela não me falou tudo isso antes? Por que ela me negou aquele beijo na sala da casa dela? Por que ela não demonstrou tudo isso quando eu estava na frente dela? Por que só agora?
Vou te explicar. Danillo, acabei de sair de uma depressão. Depois que voltei de Teresina, no início do ano, me deparei em um relacionamento completamente abusivo. Tudo que tinha de excitante antes tinha virado pesadelo. Estava decidida a casar com o cara mas ele se mostrou alguém possessivo, ciumento, controlador e que precisava me colocar sempre pra baixo para que eu não tivesse vontade de ter a companhia de mais ninguém, só a dele. Ele me enchia de surpresas, favores e presentes que faziam com que eu me sentisse culpada por contrariá-lo de alguma forma. E terminava comigo toda semana, com chantagens emocionais e voltava em menos de vinte e quatro horas dizendo que não sabia viver sem mim. Eu me sentia péssima por fazer alguém que me tratava tão bem sofrer e não conseguia deixar ele só. Isso foi me matando aos poucos. Ele tinha um ciúme doente de ti e de qualquer amigo ou amiga que eu pudesse ter. Comecei a me isolar só pra não ter que lidar com o sofrimento e as crises de ciúmes dele, sempre justificadas com a minha simpatia excessiva, com o meu egoísmo, com a minha vontade de fazer ele sofrer, com a minha falta de esforço em fazer aquele relacionamento dar certo.
Sempre que eu me deparava com uma dificuldade dessas, me lembrava de você, de como era tranquilo e sereno estar com você, como tudo funcionava e nossa química era tão perfeita. E eu ia te procurar no Kock só pra ver o teu sorriso, te dar um abraço e ter minhas energias recarregadas de novo, já que você exalava paz no ar. Mas a gente já decidido terminar, então eu não permitia que o sentimento se desenvolvesse mais do que essa amizade tão forte.
O tempo foi passando e eu me afundando cada vez mais nesse relacionamento tóxico que eu achava que me fazia bem, que me consumia por inteiro, já que eu recebia mensagens o dia inteiro. Não conseguia trabalhar, não conseguia estudar, não me era permitido ficar em casa muito menos ver algum amigo porque meu parceiro só era feliz se eu estivesse me doando 110% pra ele e enquanto não estivéssemos juntos tinha que estar respondendo suas milhões de mensagens. Entrei em parafuso.
Você me conhece bem e deve estar achando tudo isso muito estranho, já que eu sempre defendi minha liberdade e aconselhei minhas amigas a fazerem o mesmo. Mas aconteceu comigo. Mordi a língua. Até que a gota d'água caiu quando ele duvidou que eu tivesse ido trabalhar num domingo. E eu já estava cansada de dar tantas provas de tudo que fazia, daquele regime semiaberto, de ter que me explicar o tempo todo como se eu fosse uma mentirosa convicta - coisa que eu nunca fui, sempre fui verdadeira com tudo.
Coloquei um ponto final. Já não gostava dele há meses, desde o primeiro término, no carnaval, quando ele fechou a cara numa noite inteira no luau da brava, só porque eu estava feliz e interagindo com outras pessoas. Ele terminou comigo à noite e veio fazer as pazes de manhã. E seguiu fazendo isso durante meses, praticamente todo final de semana. Mas não conseguia por um fim naquilo por achar que tinha problemas com relacionamento, que ia morrer só, enfim, venenos que acabam entrando mesmo na cabeça mais forte e bem resolvida.
Pensei em te chamar milhões de vezes, trilhões de vezes. Mas não queria que gerasse um mal entendido entre a gente ou que atrapalhasse nossa amizade. Então evitava e ficava na minha.
Quando você veio aqui em casa em julho, já fazia um mês que eu estava solteira. E eu tava com tanta, mas tanta saudade de ti que não consegui me segurar. Foi como você mesmo disse, nós dois somos fogo e faísca, não conseguimos ficar longe um do outro.

To be continue...

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